Topo

Quase metade das panes em semáforos em SP é causada por falta de energia

Gabo Morales/Folhapress
Imagem: Gabo Morales/Folhapress

Léo Arcoverde

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/07/2016 01h00

A falta de energia elétrica foi a causa de 1.003 panes em semáforos da capital paulista entre janeiro e abril deste ano. Esse número representa 46% das 2.187 falhas nesses equipamentos contabilizadas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) no período. É o que aponta levantamento inédito feito pelo Fiquem Sabendo com base em dados da empresa obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação.

De acordo com as informações disponibilizadas pela CET, desde o início da reforma de cerca de 5.000 cruzamentos da cidade, em 2013, o número total de panes tem caído. Já a quantidade de falhas relacionadas a interrupções do serviço de energia fornecido pela concessionária AES Eletropaulo não para de crescer.

Segundo os dados oficiais, entre janeiro e abril de 2013, a CET registrou 6.582 falhas em semáforos em São Paulo (pouco mais que o triplo do número contabilizado neste ano). No mesmo período, o órgão contabilizou 82 panes provocadas por falta de energia, o que equivale a 1% do total naquele quadrimestre.

Foi em fevereiro de 2013 que o prefeito Fernando Haddad (PT), que tinha acabado de assumir a prefeitura, deu sinal verde para a CET abrir uma licitação para que se fizesse uma ampla reforma nos semáforos da capital paulista. A decisão se deu após um temporal deixar mais de 400 semáforos fora de operação simultaneamente em toda a cidade.

 

A cidade de São Paulo possui 6.239 cruzamentos equipados com semáforos. A reforma iniciada em 2013, que termina no fim deste ano, deverá revitalizar cerca de 5.000 desses cruzamentos, ao custo de cerca de R$ 235 milhões.

Entre os períodos de janeiro e abril de 2014 e de 2015, a CET verificou pela primeira vez um salto significativo no número de panes relacionadas à falta de energia. O crescimento foi de 51 para 293, o equivalente a uma alta de 474% em um ano. No período, o número total de falhas caiu 43% (de 5.821 para 3.301). No mesmo comparativo, o porcentual de panes provocadas por falta de energia em relação ao total de falhas saltou de 1% para 9%.

Passado um ano, a comparação entre os primeiros quadrimestres de 2015 e deste ano aponta uma queda de 34% na quantidade geral de panes. Já as falhas provocadas por queda de energia atingiram o porcentual de 46% do total.

Na avaliação da CET, essa explosão dos registros de panes relacionadas à falta de energia não representa o crescimento real do número de ocorrências, mas sim a melhoria do monitoramento dessas falhas por parte do órgão.

No fim de 2013, a CET inaugurou uma central de monitoramento semafórica para verificar em tempo real as falhas nos cruzamentos. À medida em que a reforma dos equipamentos avançou, o número de semáforos conectados a essa central cresceu, progressivamente.

Como o consórcio responsável pela reforma dos semáforos tem, por contrato, a obrigação de retomar o funcionamento de um equipamento fora de operação em até duas horas, hoje é possível saber, após esse período, o que, de fato, provocou determinada pane. Isso também influenciou o aumento dos registros de falta de energia nos cruzamentos, segundo a CET. Até 2013, isso não ocorria.

Requer diálogo entre prefeitura e empresa

Na avaliação do consultor em transportes Horácio Figueira, mestre pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), o fato de se saber hoje que quase metade das panes em semáforos é causada por falta de energia “é um paradigma novo, que requer que CET, Eletropaulo e outros agentes envolvidos na contratação da concessionária, como o governo do Estado, dialoguem para que soluções para esse problema sejam encontradas”.

“A reforma dos semáforos da cidade de São Paulo é uma ação que merece ser elogiada e já deveria ter sido feita em gestões anteriores. Porém, isso não quer dizer que a prefeitura pode simplesmente lavar as mãos e dizer que não é com ela”, explica Figueira. “O primeiro passo para um trabalho integrado é descobrir o que tem causado esses problemas de falta de energia.”

De acordo com Figueira, os semáforos quebrados representam um risco maior de acidentes em um cruzamento, sobretudo para pedestres. “Quando [uma falha] ocorre em um local movimentado, o pedestre só consegue atravessar a via ou se os condutores dos veículos quiserem parar, ou se há congestionamento. É um caos.”

Falhas mais visíveis

A CET disse por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa que “as ocorrências de falta de energia nos semáforos da cidade têm sido acompanhadas 24 horas pela equipe de sinalização da CET, por meio da Central de Manutenção Semafórica”.

De acordo com o órgão, “após o advento da Central ficaram mais visíveis os casos de falta de energia nos problemas semafóricos”. “Nesses casos, o contato é feito com a concessionária de energia, responsável pela alimentação do equipamento. Registramos casos onde nas ocorrências de falhas semafóricas por falta de energia, o tempo de restabelecimento é maior do que o de ação do equipamento no-break, que garantem o funcionamento dos semáforos por duas horas quando há falta de energia.”

A CET informou ainda que “a ocorrência de falhas nos semáforos da cidade caiu 68% nos primeiros quatro meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2013, no início da atual gestão”. “A redução é resultado do investimento de cerca de R$ 235 milhões da prefeitura na revitalização de 5.000 cruzamentos semaforizados.”

Após receber da reportagem os números de panes em semáforos relacionadas à falta de energia, a assessoria de imprensa da concessionária AES Eletropaulo disse por meio de nota que “desconhece os números do relatório apresentado e esclarece que não há uma rede exclusiva para os semáforos”.

De acordo com a concessionária, que informou que atende 20 milhões de pessoas em 24 municípios, “isso quer dizer que, quando há ocorrência de falta de energia em uma região, casas, comércios e semáforos podem ser impactados”.

“Vale ressaltar que, quando a concessionária restabelece a energia, geralmente, em caso de semáforos, é necessário que os próprios técnicos de trânsito religuem esses equipamentos. Para minimizar esse impacto, a AES Eletropaulo doou, no ano de 2013, 272 no-breaks que foram instalados em conjuntos semafóricos indicados pela CET. Após a instalação, a CET passou a responder pela operação dos equipamentos”, informa a nota enviada pela concessionária.

Ainda de acordo com a empresa, neste ano, ela está “investindo cerca de R$ 790 milhões em modernização e expansão da rede”. “Além disso, a empresa já reforçou suas ações em campo com a contratação de mais 947 profissionais, sendo 660 eletricistas, além de leituristas, técnicos de fiscalização e técnicos da operação, entre outros. No total, a concessionária investiu cerca de R$ 90 milhões apenas nas contratações. Também ampliou o número de podas de árvores e fará 500 mil em 2016.”